terça-feira, 22 de junho de 2010

GEOGRAFIA DE RONDÔNIA

RIBEIRINHOS: Guardiões das florestas

Em sentido restrito, ribeirinho é a denominação dada à pessoa que vive à margem de um rio. Desta forma, podemos afirmar com segurança que em todas as regiões brasileiras há a presença do ribeirinho, haja vista que o nosso país possui uma grande rede fluvial (um total de seis bacias hidrográficas). Entretanto, como vivemos em uma região cujo foco das atenções mundiais está voltado para ela, isto é, para a região Amazônica ou Amazônia Brasileira, afirmamos categoricamente que a população ribeirinha amazônica é muito marcante, pois são muitas as comunidades e vilarejos existentes às margens dos rios amazônicos. É claro que não temos um quantitativo estatístico real para comprovar tal assertiva. Neste contexto, vamos divagar sobre as populações ribeirinhas existentes no âmbito do estado de Rondônia.
Rondônia possui três bacias hidrográficas, as quais são subdivididas em sub-bacias, uma quantidade considerável de rios importantes (Madeira, Ji-Paraná ou Machado, Mamoré, Guaporé, Roosevelt, Colorado, Abunã, etc.), além de vários lagos e igarapés, sendo que estes cursos d’água constituem dessa forma uma rica rede hidrográfica. Como sabemos, a presença humana (excetuando os indígenas que já preexistiam antes da chegada do branco), a colonização propriamente dita desses rincões amazônicos foi estabelecida historicamente pela ocupação de seres humanos alóctones, ou seja, pelos atores sociais oriundos de outras regiões, de outros países, enfim, do litoral brasileiro tais como os padres jesuítas e carmelitas, os bandeirantes, os viajantes e exploradores de especiarias, as chamadas drogas do sertão, conforme destacou PRADO JÚNIOR, 1986:70:
No vale amazônico os gêneros de atividade se reduzem praticamente a dois: penetrar a floresta ou os rios para colher os produtos ou capturar o peixe; e conduzir as embarcações que fazem todo o transporte e constituem o único meio de locomoção.
Os rios foram no passado e continuam sendo no presente os caminhos ou estradas naturais para que as pessoas pudessem percorrer e “descobrir” diferentes lugares e, sobretudo, para que fossem criadas às margens dos rios as cidades amazônicas, tais como:
• Macapá (localizada à margem do rio Amazonas);
• Belém ( localizada à margem do rio Guamá, Maguari e Amazonas);
• Boa Vista ( localizada à margem do rio Branco);
• Manaus ( localizada à margem direita do rio Amazonas);
• Porto Velho (localizada à margem direita do rio Madeira);
• Rio Branco (localizada à margem do rio Acre).
Na realidade, o surgimento dessas urbes à beira dos rios, está intrinsecamente ligado a forma de urbanização apropriada para a época, isto é, a formação de malhas urbanas dendríticas, uma vez que a comunicação entre as cidades, a comercialização de mercadorias, o fluxo de pessoas, entre outros fatores, se davam efetivamente através dos rios porque o meio de transporte prevalecente era o navio, o barco, a canoa.
Com relação ao surgimento de Porto Velho, cidade portuária e ferroviária, a partir de 1907, uma figura lendária, pois não há comprovação real de que ela tenha existido, chamada “velho Pimentel” foi destacada e propagada em alguns escritos, sendo associada a denominação da cidade ao porto do velho Pimentel. Por ilação, podemos afirmar que o velho Pimentel seria um ribeirinho que morava nas proximidades do local escolhido para construção portuária e para acomodar a estrutura necessária para o início da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. A partir daí, pequenos núcleos de populações ribeirinhas foram se estabelecendo ao longo do rio Madeira, os quais deram origem a alguns distritos à jusante deste rio, como São Carlos, Calama, etc.; sem contar os que se estabeleceram em pontos isolados (sítios) e os indígenas preexistentes.
Com a ocupação humana estabelecida principalmente pelos ciclos da borracha, em Porto Velho e demais regiões do estado de Rondônia, bem como, o progresso, isto é, a construção da linha férrea, da linha telegráfica, a abertura da atual BR-364 e o surgimento de núcleos populacionais e posteriormente cidades ao longo destas; a presença de migrantes nordestinos foi fator importante. Com certeza, o nordestino foi o migrante que melhor se adaptou às condições amazônicas de vida, ou seja, foi trabalhar nos seringais (na extração do látex), se relacionou com os índios, aprendeu a conhecer facilmente a fauna e a flora, praticou a caça e a pesca, desenvolveu agricultura de subsistência (plantação de milho, macaxeira, mandioca para fazer farinha, melancia nas várzeas, etc.), coletou castanha, cacau, guaraná, entre outras especiarias florestais. Assim, o colono nordestino estabeleceu uma simbiose perfeita com o meio ambiente amazônico, no sentido de se adequar ao modo de vida dos caboclos e indígenas, bem como, de respeitar e preservar a natureza porque a sua inserção neste contexto ocorreu diferentemente do colono que aqui chegou no ciclo da agricultura, o qual tinha uma mentalidade mais predatória em relação ao primeiro, em função de que o que sabiam fazer era cultivar, criar gado, e para isso seria necessário desmatar e queimar muitos hectares. Porquanto, em contraposição à lógica capitalista e ao modo de sobrevivência da maioria dos colonos, os ribeirinhos são antes de tudo verdadeiros guardiões das florestas, pois sobrevivem sem degradar a natureza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário