segunda-feira, 9 de agosto de 2010

GEOGRAFIA DE RONDÔNIA

CRISE POLÍTICA E INSTITUCIONAL EM RONDÔNIA: PROBLEMA VERBAL

Aos 15 dias do mês de maio do ano de 2005 o estado de Rondônia passou a ser notícia nacional negativa, mais uma vez. A população de Rondônia ficou literalmente perplexa com as chamadas da Rede Globo de Televisão, as quais tinham como foco uma grave denúncia de corrupção feita pelo governador Ivo Narciso Cassol. Naquele fatídico domingo, toda a expectativa da população estava voltada para o programa Fantástico que divulgaria a reportagem a respeito dos fatos. Entretanto, milhares de cidadãos rondonienses foram surpreendidos porque no exato momento em que seria apresentada, a reportagem foi retirada do ar na cidade de Porto Velho ( no canal aberto da TV Rondônia) por força de decisão judicial exarada pelo desembargador Gabriel Marques, acatando o pedido de vinte e um deputados. A reportagem foi exibida para todos os estados da Federação, e também, para a grande maioria dos municípios rondonienses. Porto Velho, cidade que concentra a maior população absoluta do estado, ficou aquém do direito informacional (muitas pessoas desavisadas até brincam - Rondônia não faz parte do Brasil -, o que é um absurdo geográfico pensar desta forma) porque teve o sagrado acesso constitucional à informação cerceado por um agente público (que se dizia defensor dos direitos da sociedade), Professor universitário de Direito, cuja prática vai no caminho diametralmente oposto ao interesse do povão. Naquela mesma noite, setores da sociedade civil organizada manifestaram indignação, protestaram em frente da TV Rondônia, da Assembléia Legislativa e da casa do citado jurisconsulto.
O ato que gerou tamanha expectativa foi a divulgação de uma filmagem feita pelo Governador Ivo Cassol, em sua residência, quando um grupo de deputados capitaneados pela Deputada Elen Ruth exigia que o chefe do Poder Executivo estadual repassasse mensalmente a quantia de 50 mil Reais. Segundo a deputada, o Governador não consertaria o mundo, por isso, deveria ceder visto que tal prática era comum nos dois governos anteriores, caso contrário, o mesmo não teria governabilidade. Outro parlamentar que acompanhava a citada deputada, Ronilton Capixaba, insistia na propina, sugerindo que não passariam de meros marionetes, aceitando tudo que o executivo determinasse, inclusive, faltando às sessões plenárias, indo à pescaria ou viajando ao Rio de Janeiro nos dias ensolarados. Pegando a carona dos citados deputados, outros parlamentares também participaram do cinema marginal, fazendo as mais inacreditáveis e vergonhosas propostas, dentre os quais, Kaká Mendonça, João da Muleta, Emílio Paulista (que passaria para trás até alguns dos seus comparsas, repassando menor quantia do dinheiro rapinado), e Amarildo Almeida. Esses deputados exigiam o dinheiro para um grupo de dez deputados, sendo que mais três parlamentares pilantras seriam locupletados.
No dia 22 de maio do ano de 2005 a Rede Globo de Televisão divulgou novos trechos da filmagem do Governador Ivo Cassol, nos quais o deputado Emílio Paulista afirmou que o Presidente da Assembléia Legislativa de RO, Carlão de Oliveira, teria praticado corrupção ativa, por meio da compra de votos no valor de R$ 200.000,00 pagos a cada deputado para elegê-lo Presidente da ”Casa do Povo”. Na mesma reportagem, outros trechos incriminam os deputados Chico Doido, Chico Paraíba, Edson Gazoni, Leudo Buriti, Daniel Neri e Marcos Donadon. No dia 29 do referido mês, o Fantástico divulgou novo trecho da filmagem, no qual o deputado Chico Paraíba exigia dinheiro para um grupo menor de deputados. Na mesma reportagem, foi mostrado um estelionatário que participou da falsificação de cheques, emitidos por fornecedores para a Assembléia Legislativa, sendo que no gabinete do deputado Edson Gazoni os mesmos tinham os valores adulterados, depois sacados nos bancos e as cifras eram repassadas ao citado parlamentar.
O fato é que Rondônia teve mais uma vez o seu nome achincalhado, não pelo seu povo ordeiro e trabalhador, mas sim e, sobretudo, pelos políticos corruptos que para cá vieram arrastando a cachorrinha e construíram fortunas às custas de falcatruas e da enganação. A partir desta celeuma, a população (principalmente aquelas pessoas que vendem o voto) deve refletir e escolher melhor os seus representantes. Já a classe política, deve envergonhar-se diante da magnitude dos fatos. Esse episódio repercutiu negativamente por todo o país e disseminou-se por várias regiões do mundo globalizado.
Ao mesmo tempo em que a população rondoniana ficou perplexa, a indignação causou um magnífico exercício da cidadania, fazendo com que professores e estudantes fossem para as ruas, exigindo justiça, intervenção federal e o afastamento de todos os políticos envolvidos nestes nefastos atos. Certamente, a sociedade rondoniense está demonstrando elevado espírito moral, ético e cívico, servindo de exemplo a ser seguido por todos os brasileiros, porque a corrupção não está restrita ao estado de Rondônia, mas atinge os mais de 5560 municípios brasileiros, os demais 25 Estados e o Distrito Federal.
Ainda no programa Global “Fantástico”, do dia 26 de junho de 2005, uma reportagem mostrou o desvio de mais de R$ 15 milhões entre maio de 2004 e abril de 2005, efetuado por 23 deputados estaduais que faziam pagamentos para terceiros (”laranjas”), furtando portanto o dinheiro público. Estes fatos foram revelados pela Polícia Federal, que cumpriu o mandado de busca e apreensão na Assembléia Legislativa de RO, rastreando os computadores apreendidos e comprovando essa realidade.
Vale salientar, que o único parlamentar que não teve o nome citado nos atos ilícitos destacados foi o deputado Neri Firigolo. Este parlamentar foi no mínimo omisso porque certamente tinha conhecimento desta farra com o dinheiro público, mas não noticiou os crimes à Polícia Federal.
Em 05 de agosto de 2006 a Polícia Federal desencadeou a ”Operação Dominó”, cumprindo diversos mandados de Prisão, Busca e Apreensão na cidade de Porto Velho. Nesta ocasião, foram presas 23 pessoas dentre as quais: José Carlos de Oliveira ou ”Carlão de Oliveira” (Presidente da Assembléia Legislativa de RO), Sebastião Teixeira Chaves (Presidente do Tribunal de Justiça de RO), Edílson de Souza Silva, José Carlos Vitachi (ex-Procurador Geral), José Jorge Ribeiro da Luz ( Juiz), Carlos Magno (ex-Chefe da Casa Civil), Jurandir Almeida Filho Júnior (irmão do deputado estadual Amarildo Almeida), Edson Wander Arrabal (assessor do Deputado Amarildo Almeida), Eliezer Magno Arrabal (assessor do Deputado Amarildo Almeida), Adelino César De Moraes (assessor do Deputado Amarildo Almeida), Joarez Nunes Ferreira (assessor do Deputado Amarildo Almeida), Marcos Alves Paes (chefe de gabinete do deputado Amarildo Almeida), José Ronaldo Palitot ( diretor geral da Assembléia), Emerson Lima Santos (diretor de RH da Assembléia), Marlon Sérgio Lutosa Jungles (cunhado do presidente da Assembléia), José Carlos Cavalcante de Brito (servidor da Assembléia), João Carlos Batista de Souza (assessor do presidente da Assembléia), Lizandreia Ribeiro de Oliveira (irmã do presidente da Assembléia), Moisés José Ribeiro de Oliveira (irmão do presidente da Assembléia), Márcia Luiza Scheffer de Oliveira (mulher do presidente da Assembléia), Rosa Salomé Soares (assessora do deputado Haroldo dos Santos), Haroldo Augusto Filho (filho do deputado estadual Haroldo Santos), Gebrin Abdala Augusto dos Santos (filho do deputado Haroldo Santos).
Portanto, esta crise sem precedentes na recente história política de Rondônia, manchou profundamente a imagem do estado, visto que envolveu os três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Além do mais, Rondônia passou a ser motivo de chacota a nível nacional, sendo inclusive satirizada pelo programa Casseta e Planeta que atribuiu um novo nome ao estado: ”Roubônia”. Neste sentido, a crise institucional verificada em RO está intrinsecamente ligada ao verbo furtar.

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